segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ensaio sobre a abstinência

E naquele dia ninguém transou.

O carteiro acordou mais tarde. Um frio de rachar o fez ficar mais um pouco na cama. Mas ele gostou. Acha o frio mais gostoso que aquele clima quente e previsível. Não que isso faça dele uma pessoa gélida. O carteiro é um tremendo de um tarado.

Casado há mais de 15 anos, trai sua mulher com qualquer divorciada carente de uma boa trepada. Todos os dias, ele sai logo cedinho para atravessar a pequena cidade a entregar correspondências. Entre uma andança e outra, acaba entregando cartas e caixas de produtos comprados pela Internet a mulheres que moram sozinhas ou que são rejeitadas pelos maridos no dia a dia. Ele conhece todos os bairros e cada um dos moradores de cada uma das casas, afinal, ele é o carteiro. Conhece bem o endereço de jovens senhoras ávidas por um carinho violento. E ele dá esse carinho. Ele sabe ser violento. O carteiro chega como quem não quer nada, para apenas entregar a correspondência e, como quem ainda não quer nada, troca algumas palavras com aqueles olhinhos tristinhos que vemos nas mulheres que dormem sozinhas em camas enormes e tão pouco aquecidas quanto seus próprios coraçõezinhos. O carteiro come todas elas.

Nessa manhã ele foi ao bairro no fundo da cidade, naquelas casinhas perto da encosta. Lá mora uma menina muito danadinha. Sua mãe trabalha a tarde e sai umas duas horas depois que ela chega da escola. Sozinha até o comecinho da noite, ela passa horas vendo pornografia na Internet e se masturbando. Tira a roupa na frente da camerazinha do computador, tirando o sutiã, rebolando com uma calcinha exageradamente apertadinha. Goza dezenas de vezes. Ela fica ainda mais taradinha no frio porque, quando fica pelada, sua pele arrepia e ela acha isso muito sexy. E o carteiro foi entregar umas cartas na casa dela.
A menina danadinha ouviu a campainha e desceu as escadas aos pulos, toda saltitante num pijaminha minúsculo rosa. Abriu a porta sorridente e com os pelos do braço e do pescoço ouriçados. O carteiro viu a cara de safadinha que a menina tinha e essa, por sua vez, sacou todo o tesão que brotou nos olhos daquele tiozinho com cara de tarado. Mas foi só isso.

A menina recebeu as correspondências, assinou o que tinha para assinar, ainda ficou uns segundos parada na porta com os seios enrijecidos pelo frio delicioso. Deixou o carteiro memorizar detalhes do seu corpo com um sorriso gigante e safado. O carteiro fez exatamente isso, examinando cada curva daquele corpinho arrepiado. Chegou a estender a mão e tocar um dos seios da menina. Ela nada disse. Só abaixou a vista para olhar os dedos do carteiro passeando em sua tetinha macia. A menina fechou a porta, subiu para o quarto e ficou lendo contos de putaria. O carteiro foi com destino à próxima rua.

Do outro lado da cidadezinha, o caixeiro viajante chegava depois de três longos meses de viagem. Foi vender bugigangas tecnológicas nas vilas tropicais, uns lugares quentes pra diabo. Estava feliz em voltar. Saudades da esposa. Chegou silencioso e a encontrou lavando louças. Agarrou-a por trás e mordeu-a no pescoço. Sabia que ela ficava louca de volúpia com mordidas forçadas na base da orelha. Sentiu as pernas dela estremecendo, as mãos largando a louça cheia de espuma. Apertou as ancas de sua senhora, puxou seu quadril pra junto do dela. O caixeiro viajante virou sua esposa quase que num rodopio e encheu a boca dela com sua língua. Foram três longos meses sem aquele beijo, sem aqueles cabelos dourados teimando em cair no meio da boca dos dois. O caixeiro sentou-se em uma das cadeiras da mesa e colocou sua mulher sentada no seu colo. Ficaram horas se olhando, trocando sorrisos e afagos. Uma delícia só.

A noite caiu e casais de namorados eram vistos pra lá e pra cá, zanzando de carro pelo centro da cidadezinha. Naquela noite, nenhum casal foi pego com os vidros embaçados, com as pernas pro alto. Nenhum furgão foi visto atrás das placas de “bem-vindo” da entrada da cidade e nem casais a pé foram atrapalhados pecando bem atrás da igreja. As prostitutas do único bordel da cidade não trabalharam a noite toda. Vararam a madrugada conversando, mas não entre si. Conversavam com seus clientes! Homens pagaram em dinheiro pela companhia das mulheres da vida, mas aproveitaram o frio gostoso da noite para contar sobre suas vidas, para saber do passado dessas damas sempre tão reservadas no que diz respeito à vida pessoal. Os marinheiros que perambulam de quando em quando perto do pequeno porto encheram a cara, como era de se esperar, e não foram encontrar as namoradas dessa cidade. Caíram pelo chão e dormiram o sono dos justos, todos com um sorriso de orelha a orelha.




Foi uma noite tranquila demais, mas muitíssimo bem aproveitada. A cara de satisfação de todos acusava os bons ventos, logo na manhã seguinte. Pessoas com aura de gostosura faziam suas tarefas diárias com um afinco nunca visto. Os vereadores da cidade conseguiram um fato inédito, iniciando as sessões com horários britânicos e sem nenhuma ausência, desatolando assim várias das centenas de medidas que ainda estavam paradas por falta de “tempo” para votação. Naquela manhã, nenhum ônibus atrasou na cidade.

O carteiro acordou bem cedo pra ir trabalhar. Saiu todo empacotado de roupas pra não congelar com o frio que fazia. Saiu preguiçoso na varanda, sentiu os primeiros ventos chegando e deixando a ponta do nariz vermelha, e perdeu a pressa. Chamou sua esposa e pediu pra ela ficar ali, de braços dados com ele. Mas antes, sentiu que estava muito quente dentro aquelas roupas todas. Despiu-se de boa parte delas, pra dar aquela esfriada tão boa. Ficou ali com sua inocente companheira, vendo folhas caindo evitando violência com o chão. Um sopro mais danadinho veio por baixo e pegou o casal de surpresa. Ela se assustou. O carteiro teve um orgasmo.

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